Residência Ipê Rosa

Todo projeto, para nós, nasce de uma semente. Na Residência Ipê Rosa, essa semente foi uma memória afetiva do cliente, uma imagem de infância ligada a esta árvore de floração tão expressiva. Assumimos, então, a responsabilidade de não apenas projetar uma casa, mas de construir um lugar que pudesse abrigar e nutrir essa memória. O próprio nome já ditava a alma do projeto.

O primeiro diálogo se deu com o lugar: um terreno generoso de 1.500m² em Gravatá, com uma topografia desafiadora de 8 metros em aclive e uma legislação que nos presenteava com um recuo frontal de 15 metros. Vimos nesse recuo não uma limitação, mas a tela em branco para criar um percurso de chegada. Inspirados na liberdade de Burle Marx, desenhamos um jardim de curvas orgânicas que acolhe quem chega, retarda o passo e prepara o espírito para a experiência da casa, tendo ao fundo a serenidade de um lago.

A implantação foi a resposta ao aclive. Em vez de fatiar o terreno em múltiplos níveis, optamos por criar um grande platô principal, acomodando a residência de 375m² como uma construção térrea que repousa sobre a cota mais alta. Dessa forma, a topografia foi vencida de uma só vez, e a casa pôde se organizar em um único plano, garantindo fluidez e acessibilidade.

A extensão desse plano nos permitiu desenhar com generosidade. A ala íntima, com suas cinco suítes, foi inteiramente voltada para dentro, abrindo-se para um grande jardim privativo onde a vida familiar acontece. A piscina, o espaço gourmet e o parquinho se integram a esse núcleo, criando um mundo particular, seguro e em constante diálogo com a arquitetura. A suíte do casal, por sua vez, foi posicionada de forma mais resguardada, garantindo-lhes um refúgio de silêncio e privacidade.

A relação com o clima e a natureza é mediada por filtros. A arquitetura se abre para a paisagem, mas também se protege. Brises móveis de madeira compõem as fachadas, permitindo aos moradores um controle preciso da incidência solar e da privacidade, desenhando com luz e sombra os ambientes ao longo do dia. A materialidade segue essa busca por pertencimento, com texturas e tons que dialogam com a paisagem e o clima ameno de Gravatá.

O percurso interno foi pensado como uma sucessão de sensações. A entrada se dá por um hall de pé-direito mais baixo, que gera acolhimento, para então se revelar em um espaço social amplo, de pé-direito duplo, onde living e jantar se integram. Essa expansão vertical não só traz uma sensação de amplitude, como também cria um conforto térmico essencial. A funcionalidade da casa é garantida por uma ala de serviços completa e discreta, com uma sexta suíte de apoio, estrategicamente ligada ao acesso da garagem para otimizar os fluxos do dia a dia.

No topo, como um convite final à contemplação, um terraço se abre para uma dupla perspectiva: por um lado, a vista para a vida que pulsa na área de lazer; por outro, a visão da paisagem que se descortina em frente. É a síntese de um projeto que buscou, em cada decisão, equilibrar memória, técnica e sensibilidade, criando um lar que é, ao mesmo tempo, um refúgio íntimo e uma janela aberta para a natureza.