Residência Araucária

Chegar a este lugar, no interior do Rio Grande do Sul, foi ser recebido por uma paisagem de força imensa. O terreno não nos apresentava apenas um desafio técnico com seu declive acentuado, mas sim um convite irrecusável: projetar a arquitetura a partir da vista. A mata densa e a presença das águas ao fundo não seriam um pano de fundo, mas a alma do projeto. O nosso primeiro gesto foi, portanto, o de enquadrar e reverenciar essa paisagem.

A topografia nos deu o caminho. Em vez de lutar contra o morro, decidimos acompanhá-lo. A casa se desenvolve em patamares que descem suavemente pelo terreno, criando uma relação de intimidade crescente com a natureza. Cada nível se abre como um terraço, uma bandeja que se projeta em direção à mata, diluindo a percepção de onde a casa termina e a paisagem começa. A estrutura foi pensada para ser o mais esbelta possível, permitindo que grandes painéis de vidro substituam as paredes e tornem a mata uma presença constante em todos os ambientes.

Para nós, a verdade dos materiais é inegociável. A arquitetura deve envelhecer com a dignidade da natureza ao redor. Por isso, a escolha recaiu sobre a madeira em seu estado puro, a pedra natural que ancora a construção ao solo e o concreto aparente que revela a ossatura do projeto. Esses elementos não imitam a natureza, eles conversam com ela. Eles trazem o toque, o cheiro e a textura que constroem o aconchego e o sentimento de pertencimento.

A linguagem que adotamos busca a pureza e a simplicidade. As linhas retas e a geometria clara não são um fim em si mesmas, mas um meio para não competir com a exuberância do entorno. É uma estrutura que se mostra com honestidade, quase industrial em sua lógica, mas que se aquece no contato com os materiais naturais.

Ao final, a Residência Araucária é menos um objeto e mais uma experiência. É um percurso que nos leva da rua ao coração da mata, um abrigo que se abre por completo para deixar a vida e a paisagem entrarem. É a nossa forma de construir um mirante para a beleza do sul do Brasil, onde a arquitetura serve, acima de tudo, para potencializar o lugar onde está inserida.